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quinta-feira, novembro 20, 2003

XLII. "FatBoys" 

1. Cumprindo uma das regras do bar, passados catorze posts, barman volta a falar de futebol. Sabendo não ser o único a fazer esforços de contenção no que concerne a este tema.

Porventura, já se terá passado com alguns de vós. A intensidade com que se segue este fenómeno chamado futebol, não é constante ao longo do tempo. Um «tempinho» antes de ser declarado adulto, pensei: «esta história da bola, consegue mexer com o meu estado anímico e os intérpretes da dita não se entregam de forma proporcional aos sentimentos gerados por ela, então o melhor, é deixar esta irracionalidade a quem dela tire melhor proveito. Por mim, basta.». Estava decidido a dar a devida importância à coisa. E tudo teria corrido bem, não desse conta da verdadeira dimensão do fenómeno. A dada altura constatei que alguns círculos de convivência social, me viam com os mesmos olhos que um fumador olha para um ex-fumador. Pior. Não havia tido em atenção que a abstinência deste «desbloqueador de conversa» me prejudicaria, até, no meu círculo de amigos. «Caraças! Isto é muito pior do que eu alguma vez julguei» - pensei.
Tenho como certo. Se para cá viesse viver o americano que mais se marimbasse para o soccer, num curto espaço de tempo transformar-se-ía num indefectível adepto de futebol, sob pena de ficar à margem de uma variável importante para a integração social.


2. Dentro do universo futebolístico, conseguem-se gerar discussões apaixonadas alicerçadas nas mais inócuas impressões. Repare-se. Para alguns «o Baía é o maior», para outros «o Baía é um frangueiro», há ainda os que afirmam: «o João Pinto é um génio» ou os que dizem «o João Pinto é um “artista” (no sentido negativo do termo)».
Não me parece que a causa destas observações, seja a «clubite» (uma das doenças da bola*). De entre o universo de adeptos de cada clube de futebol, também existem estas discrepâncias de valias.
Veja-se o caso de Baía. Barman, um assumido portista (seja lá o que isso for), não morre de amores pelo guarda-redes do «FCP». O mesmo se aplica ao João Pinto, ao Mozer, ao Domingos Paciência, ao Paulinho Santos...
O denominador comum dos jogadores citados, tem a ver com a sua sobrevalorização enquanto jogadores de futebol. Têm qualidades? Com certeza que têm. Potencial para serem melhores do que de facto são ou foram? Não podia estar mais de acordo. Mas, quanto a mim, alguns são verdadeiras fraudes. Um exemplo eloquente é o caso de Paulinho Santos.
Voltando a Baía. Atrevo-me a dizer, não fosse a sua desastrada prestação no mundial e Portugal tinha passado a primeira fase da competição. Não digo que seríamos campeões do mundo (com Figo naquele estado lastimoso, nem por sombras), mas sairíamos indubitavelmente do torneio, com uma imagem mais airosa.
Ainda guardo uma expressão de Ricardo a roer as unhas, que ilustrava na exacta medida, o que lhe ia na alma. Ele que havia feito todos os jogos de qualificação e que evitou uma goleada do Brasil num jogo de preparação, adiando o pesadelo do Oriente.
E foi no mundial da «Coreia/Japão» que começou a novela «Scolari/Baía».
Obviamente, tenho o dever de reconhecer, que o Vitor Baía é actualmente o guarda-redes português que mais garantias dá a uma equipa de futebol. No entanto, tudo indica, Baía irá sentir o mesmo amargo de boca experimentado por Ricardo na Coreia.


3. O país fervilha com as sucessivas inaugurações de estádios de futebol.
Eles são lindos e funcionais. O rectângulo do jogo, passará a ter uma imagem de fundo bem mais atractiva do que até aqui. Sabemos que não é a mesma coisa ver o Real Madrid a jogar no Santiago Bernabéu ou a jogar no estádio do «Caçador das Taipas». E, mais importante, o público poderá seguir civilizadamente um desafio de futebol. Assim se espera. Assim experimentou barman numa dessas preciosidades: o novo estádio Mário Duarte, em Aveiro.
Até aqui, só havia presenciado três ou quatro desafios de futebol profissional. O último deles, foi uma final da Taça de Portugal de má memória (a do very light). E posso dizer: é um prazer assistir a uma partida de futebol num estádio com estas condições. Entusiasma qualquer alma que goste do «desporto-rei» e não só.
É sabido. Isto de construir estádios de futebol com o patrocínio do Estado gera, fatalmente, numerosas discussões. Mas deve-se enaltecer um facto. Os estádios estão prontos a tempo e horas. Parece que nunca um conjunto tão vasto de infra-estruturas havia conseguido realizar-se dentro dos prazos previamente estipulados.
Será interessante lembrar o argumento que Miguel Sousa Tavares usou para justificar o seu entusiasmo pela «Expo 98»: realce-se este exemplo e sirvam-se dele para elevar o padrão de exigência a cada um de nós.
Pode-se também colocar a dúvida: O mérito foi mesmo nosso? Sobre isso pronunciou-se António Barreto mais ou menos nestes termos: “a construção dos estádios para o «Euro 2004» foi gerida por outros europeus”.


4. As selecções nacionais de futebol fartam-se de prestigiar o país por esse mundo fora.
Nunca ganharam nada verdadeiramente importante. Mas deixam sempre os amantes do «desporto-rei» com água na boca. Além disso gostam de aquecer as orelhas ao árbitro, ou de deixar a sua marca nos balneários. Seja com um «molhinho de alhos» ou com um decor apocalíptico. Por isso, é importante, acarinhar os sacrificados meninos da bola*, pois estes suam a camisola e são muito sensíveis. Assobios? Nem pensar em tal sacrilégio sob pena de desmoralizarem os rapazes. Eu sou, decerto, um nabo para entender (nem que seja superficialmente) esse complexo jogo chamado futebol. Não sou seguidor das linhas do «bota abaixo», mas que me remexe cá a mona quando vejo aquele ar de prima donna aos jogadores da bola, lá isso remexe. Treinam todos os dias com a «dita cuja», têm departamentos médicos, jurídicos e infra-estruturas desportivas ao seu dispor diariamente e chegam o jogo em que têm de dar o litro e, vai lá ver, quando rematam à baliza nem com ela acertam. Admito que o guarda-redes defenda um ou outro remate com «selo de golo», mas observar que após uma semana de árduo trabalho os jogadores mais parecem exímios executantes de rugby. Enfim, se é essa a vocação, que mudem de modalidade. Não enganem a malta.


*Bola – Significa, no léxico feminino, única novela que agrada mais a eles do que a elas.


Nota: Barman anda há «séculos» para actualizar os seus links. E já faltou mais para concluir tão desgastante empreitada. Mas reveste-se de enorme urgência destacar um blogue que não me canso de visitar há mais de um par de meses: avatares de um desejo. Daqui só não vai um «xoxo de amizade», pelo carácter ambíguo da sua natureza. E além disso, resistem preconceitos saloios na cabeça de barman...


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