quinta-feira, outubro 09, 2003
XXX. Nostalgias?
Barman sente algo de difícil caracterização – pelo menos por mim – quando ouve pessoas que viveram no anterior regime a tecer considerações, sobre o mesmo, usando paninhos quentes. Que aconteceu à memória desta gente?
É complicado argumentar com conhecimento de causa quando não se sentiu o ambiente dessa época. Um exercício que faço para ter uma noção da mudança de tempos é pegar, algures na vivência passada, num acontecimento, num determinado grupo, numa específica visão política, (...) e compará-lo ao seu valor actual. Vou tentar demonstrar com um exemplo elucidativo.
Barman cresceu com referências onde o idoso desempenhava um papel activo na condução de determinados aspectos familiares. Nomeadamente na exaltação de valores que este julgava caros à sua estirpe. E era respeitado. Sim. Em alguns casos confundido com temor. Mas o patriarca era, fatalmente, um cânone para os demais descendentes. Confrontando o papel reservado ao idoso nesse tempo, àquele que hoje conhecemos, temos uma noção da mudança das concepções do mundo.
Neste quadro até compreendo um velho mais saudoso (digo velho porque a mulher não eram tida nem achada para quase nada) desses tempos - época em que ditavam alguma coisa. Mesmo vivendo em condições duríssimas, – falo obviamente da maioria da população portuguesa- pelo menos no seio familiar, o decano e os seus valores eram incontornáveis. Este sentia e fazia sentir a sua personalidade.
Compreendo também o tom reaccionário de muitos que deixaram uma vida feliz em África para regressarem à metrópole. Nalguns casos deixaram um país cheio de recursos e mais evoluído para viverem noutro pobre e miserável. Viram as suas vidas andar para trás. E, perante tamanho choque, tiveram de arranjar um bode expiatório das suas frustrações. Pois casos houve de total insucesso na adaptação à “casinha portuguesa”. Não se estranha por isso a escolha do vilão Mário Soares e da imensa nostalgia pelos tempos do senhor de Santa Comba Dão.
O que custa a dissolver, que dá volta à cabeça, que não se compreende é observar gente que sofreu a bem sofrer com o anterior regime como estarem presos, serem espancados, explorados, colocados à mercê da irrisão... Afirmarem que esta geração está perdida e só lhes valerá uma nova encarnação do dito cujo...
Ultrapassa a minha compreensão. Quem sabe a vossa domine este paradoxo.
Nota: Olhem que andam por aí uns tipos, que não têm mais nada que fazer, e vêem programas de poesia com intervenientes experimentados na arte de bem "blogar". Não sou um dos 500 compradores de poesia. Mas posso vir a ser. Ah! Falaram por lá num José Mário. Diz-vos alguma coisa?
Nota 2: A desfaçatez deste barman ainda me vai arranjar dores de cabeça ;)
É complicado argumentar com conhecimento de causa quando não se sentiu o ambiente dessa época. Um exercício que faço para ter uma noção da mudança de tempos é pegar, algures na vivência passada, num acontecimento, num determinado grupo, numa específica visão política, (...) e compará-lo ao seu valor actual. Vou tentar demonstrar com um exemplo elucidativo.
Barman cresceu com referências onde o idoso desempenhava um papel activo na condução de determinados aspectos familiares. Nomeadamente na exaltação de valores que este julgava caros à sua estirpe. E era respeitado. Sim. Em alguns casos confundido com temor. Mas o patriarca era, fatalmente, um cânone para os demais descendentes. Confrontando o papel reservado ao idoso nesse tempo, àquele que hoje conhecemos, temos uma noção da mudança das concepções do mundo.
Neste quadro até compreendo um velho mais saudoso (digo velho porque a mulher não eram tida nem achada para quase nada) desses tempos - época em que ditavam alguma coisa. Mesmo vivendo em condições duríssimas, – falo obviamente da maioria da população portuguesa- pelo menos no seio familiar, o decano e os seus valores eram incontornáveis. Este sentia e fazia sentir a sua personalidade.
Compreendo também o tom reaccionário de muitos que deixaram uma vida feliz em África para regressarem à metrópole. Nalguns casos deixaram um país cheio de recursos e mais evoluído para viverem noutro pobre e miserável. Viram as suas vidas andar para trás. E, perante tamanho choque, tiveram de arranjar um bode expiatório das suas frustrações. Pois casos houve de total insucesso na adaptação à “casinha portuguesa”. Não se estranha por isso a escolha do vilão Mário Soares e da imensa nostalgia pelos tempos do senhor de Santa Comba Dão.
O que custa a dissolver, que dá volta à cabeça, que não se compreende é observar gente que sofreu a bem sofrer com o anterior regime como estarem presos, serem espancados, explorados, colocados à mercê da irrisão... Afirmarem que esta geração está perdida e só lhes valerá uma nova encarnação do dito cujo...
Ultrapassa a minha compreensão. Quem sabe a vossa domine este paradoxo.
Nota: Olhem que andam por aí uns tipos, que não têm mais nada que fazer, e vêem programas de poesia com intervenientes experimentados na arte de bem "blogar". Não sou um dos 500 compradores de poesia. Mas posso vir a ser. Ah! Falaram por lá num José Mário. Diz-vos alguma coisa?
Nota 2: A desfaçatez deste barman ainda me vai arranjar dores de cabeça ;)