terça-feira, setembro 02, 2003
XVI. Ameaças esquecidas pelo mundo
Barman é ignorante. E como “bom” ignorante também é desconfiado. Desconfia da informação dita de referência, desconfia das opiniões dos expertos da retórica, desconfia da esmola (blogues à borla? Hum!!!), desconfia das suas próprias opiniões, quanto mais eloquentes parecem, mais desconfia...
Barman vive permanentemente na sua incerteza (lembrados sejam), mas, como já ouviu ao falecido Mourão- Ferreira, arranjam-se umas certezinhas para contornar a dúvida.
Se a incerteza é permanente, as perguntas são mais que muitas.
É incompreensível na perspectiva deste modesto barman (para refrear o desconforto de sentir no eco da própria voz, laivos de arrogância), olhar para as agendas políticas e não ver nas suas prioridades, os prementes problemas das várias sociedades que compõem o mundo.
Alexandra Prado Coelho, num trabalho intitulado “As Ameaças Esquecidas pelo Mundo” elaborado para o jornal “Público” no dia 20 de Julho do corrente ano, conseguiu tocar na questão em cima referida.
Aí enumeram-se dez questões que não estão a receber a devida atenção da comunicação social e da opinião pública e que tendem a ser esquecidos ou ignorados:
- O muro que está a ser construído entre Israel e a Cisjordânia;
- A sida e os exércitos africanos;
- A diminuição da população russa;
- A divisão hindus-muçulmanos;
- A guerra de água do Indo;
- O eixo Teerão-Nova Deli;
- Os Golias da indústria de Defesa;
- A guerrilha urbana;
- Ataques anti-satélites;
- A falta de porta-aviões (este problema coloca-se na óptica de defesa norte-americana conhecidas as intervenções simultâneas em variados pontos do globo).
Estas interrogações foram levantadas por dez analistas do think-tank RAND (seja lá o que for) a pedido da revista norte-americana "Atlantic Monthly" que pediu a estes para escolherem alguns assuntos que os preocupam e aos quais está a ser dada pouca atenção.
Na mesma peça jornalística, algumas personalidades portuguesas são também chamadas a darem o seu contributo e são referidas, entre outras, as seguintes preocupações:
- A demografia e as ambições da União Europeia;
- As tecnologias de modificação genética;
- Guerra contra a cultura e a natureza.
Só com estes três temas, podíam-se iniciar discussões infinitas e organizar os mais diversos eventos.
Mas tomo a liberdade de destacar duas questões. Para as quais são insondáveis as razões que as ausentam da ordem do dia. E que deviam ser permanentemente discutidas. Tanto pelo poder político como pela opinião pública.
Fala-se da demografia e da consequente pressão sobre os recursos naturais.
É de todo inconcebível alimentar padrões de vida, como os que possuem grande parte dos países do hemisfério Norte, ao sabermos do crescimento demográfico dos países do Sul e de todos os problemas que isso acarreta. Pior. Como é possível seduzir civilizações para o estilo de vida ocidental se racionalmente é manifestamente impossível realizar tais anseios?
Para formar uma ideia, elabore-se o seguinte exercício. Imagine-se cada família chinesa a usufruir da comodidade de um automóvel, de um frigorífico, de um micro-ondas, de um aquecedor, de um televisor, de um telemóvel...E faça-se agora um estudo sobre o impacto desta situação nos recursos naturais e no ambiente?
Fervo de curiosidade para saber dos resultados de um estudo assente nestes pressupostos.
Não pensam nisto? Não se preocupam com isto?
Pessoalmente não consigo conceber nenhuma forma de desenvolvimento de uma qualquer sociedade em particular, menosprezando as demais sociedades. Tudo o processo de desenvolvimento de qualquer país tem de ser feito em consonância com o interesse de todos. Não consigo ver outra forma de desenvolvimento. O processo de globalização é um motivo adicional que reforça (ou devia reforçar) esta perspectiva de desenvolvimento conjunta e concertada.
É neste contexto que aumentam as preocupações acerca da pressão demográfica e sobre a suas nefastas consequências. Que se fazem sentir numa primeira fase e de forma brutal nos países mais carentes.
Quem se preocupa com os mais desfavorecidos tem de resolver a equação demografia / recursos / sobrevivência.
ouvidobarman@lavache.com
Barman vive permanentemente na sua incerteza (lembrados sejam), mas, como já ouviu ao falecido Mourão- Ferreira, arranjam-se umas certezinhas para contornar a dúvida.
Se a incerteza é permanente, as perguntas são mais que muitas.
É incompreensível na perspectiva deste modesto barman (para refrear o desconforto de sentir no eco da própria voz, laivos de arrogância), olhar para as agendas políticas e não ver nas suas prioridades, os prementes problemas das várias sociedades que compõem o mundo.
Alexandra Prado Coelho, num trabalho intitulado “As Ameaças Esquecidas pelo Mundo” elaborado para o jornal “Público” no dia 20 de Julho do corrente ano, conseguiu tocar na questão em cima referida.
Aí enumeram-se dez questões que não estão a receber a devida atenção da comunicação social e da opinião pública e que tendem a ser esquecidos ou ignorados:
- O muro que está a ser construído entre Israel e a Cisjordânia;
- A sida e os exércitos africanos;
- A diminuição da população russa;
- A divisão hindus-muçulmanos;
- A guerra de água do Indo;
- O eixo Teerão-Nova Deli;
- Os Golias da indústria de Defesa;
- A guerrilha urbana;
- Ataques anti-satélites;
- A falta de porta-aviões (este problema coloca-se na óptica de defesa norte-americana conhecidas as intervenções simultâneas em variados pontos do globo).
Estas interrogações foram levantadas por dez analistas do think-tank RAND (seja lá o que for) a pedido da revista norte-americana "Atlantic Monthly" que pediu a estes para escolherem alguns assuntos que os preocupam e aos quais está a ser dada pouca atenção.
Na mesma peça jornalística, algumas personalidades portuguesas são também chamadas a darem o seu contributo e são referidas, entre outras, as seguintes preocupações:
- A demografia e as ambições da União Europeia;
- As tecnologias de modificação genética;
- Guerra contra a cultura e a natureza.
Só com estes três temas, podíam-se iniciar discussões infinitas e organizar os mais diversos eventos.
Mas tomo a liberdade de destacar duas questões. Para as quais são insondáveis as razões que as ausentam da ordem do dia. E que deviam ser permanentemente discutidas. Tanto pelo poder político como pela opinião pública.
Fala-se da demografia e da consequente pressão sobre os recursos naturais.
É de todo inconcebível alimentar padrões de vida, como os que possuem grande parte dos países do hemisfério Norte, ao sabermos do crescimento demográfico dos países do Sul e de todos os problemas que isso acarreta. Pior. Como é possível seduzir civilizações para o estilo de vida ocidental se racionalmente é manifestamente impossível realizar tais anseios?
Para formar uma ideia, elabore-se o seguinte exercício. Imagine-se cada família chinesa a usufruir da comodidade de um automóvel, de um frigorífico, de um micro-ondas, de um aquecedor, de um televisor, de um telemóvel...E faça-se agora um estudo sobre o impacto desta situação nos recursos naturais e no ambiente?
Fervo de curiosidade para saber dos resultados de um estudo assente nestes pressupostos.
Não pensam nisto? Não se preocupam com isto?
Pessoalmente não consigo conceber nenhuma forma de desenvolvimento de uma qualquer sociedade em particular, menosprezando as demais sociedades. Tudo o processo de desenvolvimento de qualquer país tem de ser feito em consonância com o interesse de todos. Não consigo ver outra forma de desenvolvimento. O processo de globalização é um motivo adicional que reforça (ou devia reforçar) esta perspectiva de desenvolvimento conjunta e concertada.
É neste contexto que aumentam as preocupações acerca da pressão demográfica e sobre a suas nefastas consequências. Que se fazem sentir numa primeira fase e de forma brutal nos países mais carentes.
Quem se preocupa com os mais desfavorecidos tem de resolver a equação demografia / recursos / sobrevivência.
ouvidobarman@lavache.com